sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Caloiros na Escola






Na escola não há uma primeira vez.
 Existem várias primeiras vezes - tantas quanto as
 transições de ciclo. Mais uma corrida, mais uma viagem,
 mais uma mudança,  mais uma adaptação. 
 Cada novo ciclo volta a  ser como o primeiro dia de
 escola - a ansiedade, o medo de falhar, as expectativas.
Quanto mais radicais as mudanças, maior a angústia.
Os recém chegados  alegram-se com as novidades,  desorientam-se
 com as mudanças e têm de aprender a lidar com rotinas diferentes.
São caloiros , em suma.
 E qual a melhor maneira de iniciar a carreira escolar?
como é que os novatos vão apetrechados para a inauguração
 de mais um percurso? O que devem levar na bagagem?
 É que estes são, dizem os psicólogos,  anos de maior risco.
 E não há nada como começar com o pé direito.
Se aos 3 anos a estreia é total, aos seis iniciam-se nas contas
de multiplicar e na leitura. Aos 10, têm de adaptar-se a uma
escola maior e a uma dezena de professores. Aos 12, encontram novas
disciplinas e aos  15 já começam a pensar na faculdade.
Ao longo dos anos, as lágrimas vão secando. Os choros tradicionais
do pré-escolar são reprimidos, mas os medos continuam.
Muitas vezes, porque se deparam na escola com  um somatório
de testes de avaliação, quando deviam encontrar «um processo
afectivo», defende a psicóloga  Helena Marujo: «Primeiro há que
estabelecera relação e depois é que vem o bê-á-bá. O importante é
que os miúdos se entusiasmem com a ideia de continuar na escola.»
Não existe qualquer razão para que um menino de 6 ou 10 anos
sofra de enxaquecas crónicas por ter  medo de falhar na escola,
como já diagnosticou, no seu consultório, a psicóloga, especialista em
aconselhamento educacional. Cabe aos encarregados de educação
e aos professores desmistificar as  dificuldades e ajudar a descobrir
 o prazer da aprendizagem. «Os pais devem preocupar-se com a
felicidade  da criança, ver se faz amigos, se o professor respeita
 a sua individualidade e  não tanto se já aprendeu a  ler e a escrever.
Há que desdramatizar a escola.»
Passar de um professor para dez e de poucas dezenas de
colegas para várias centenas, como acontece na transição do
 primeiro para o segundo ciclo, pode parecer assustador, mas
contribui parao crescimento.
 «Hoje, temos a mania de proteger os meninos de tudo.
As frustrações fazem parte da vida.
Evitá-las seria seria sempre artificial».
 Afinal cada novo ciclo escolar é como o slogan inventado por
Fernando Pessoa para publicitar a Coca-Cola:
«Primeiro estranha-se, depois entranha-se.»

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